Há exatamente um ano, o mundo conheceu a pequena Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Não pelas suas belezas naturais e pela hospitalidade de seu povo, mas pelo maior crime ambiental do mundo: o rompimento da barragem da Vale.
O total de mortos na tragédia é de 259. Outras 11 pessoas continuam desaparecidas.
Além da incontável perda humana, material e natural. Da dor, da tristeza e de todo o colapso que a tragédia causou, até que nós nos manifestássemos, nada se falava sobre mais um grande problema ocasionado pelo rompimento poderia causar: a falta de água em Belo Horizonte.
Eu trouxe essa notícia alarmante ao conhecimento público, ao assumir o grande desafio de ser o relator da CPI das Águas e Barragens na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Foram dezenas de reuniões, visitas e centenas de páginas de um relatório que trouxe um grande alerta para BH: a possibilidade de falta de água em nossa cidade no começo de 2020.
Nosso esforço ganhou as páginas dos jornais, apelo da mídia, alcançou a esfera jurídica e o apelo popular. Até que a Copasa e o governo de Minas admitiram que, se nada fosse feito, BH, de fato, ficará sem água no início deste ano. Após ter acesso à minha entrevista em jornal de grande circulação, a Vale foi obrigada judicialmente a construir uma nova fonte de captação de água para BH.
Já se passaram 365 dias dessa tragédia. O mar de lama que agora se solidifica demonstra o pouco caso da Vale com a reparação dos danos causados pela sua irresponsabilidade. Nossa CPI indiciou várias pessoas e o MP a acatou, tendo denunciado 16 pessoas por homicídio doloso, sustentando, assim como descrito na CPI, que houve um conluio entre a mineradora Vale e a consultoria alemã Tüv Süd.
Conforme ficou demonstrado, ambas as empresas tinham conhecimento da situação crítica da barragem que se rompeu, mas não compartilharam as informações com o poder público e com a sociedade e assumiram os riscos, gerando o crime.
Há um ano nesta luta, continuo trabalhando para que os responsáveis por este crime sejam punidos e o fantasma do rodízio e racionamento de água em BH desapareça de uma vez por todas. Continuarmos sem descansar até que a Vale pague pelos seus crimes.
Impossível uma barragem estar escorrendo lama nos canais de drenagem e dizer que estava tudo normal e estável. A Vale sabia sim da instabilidade e “jogou” com a vida de muitos, de forma direta e indireta. Em Brumadinho ela pagou indenização para todos que possuíam propriedade no município, sendo atingido pelo desastre ou não. Sei de moradores do condomínio retiro do chalé aqui em cima na lagoa dos Ingleses, que receberam indenização por morador. Quero saber qual indenização a população de BH vai receber por ser obrigada pela displicência da Vale em ficar no racionamento e sem água?