O que o caos me ensinou

Considerado um dos piores janeiros de toda a história, para muitos, o mês parece interminável. Um balanço do primeiro mês de 2020 revela acontecimentos trágicos e dores que ficarão para a história. Minas, especialmente, foi marcada por chuvas intensas, que deixaram cidades destruídas, centenas de desabrigados e um triste número de 55 mortos até a semana passada. Quem acompanhou as cenas das tragédias pelos veículos de comunicação se sensibilizou com as perdas e a dor das vítimas, mas nada se compara a estar nos locais. Ver de perto a dor, as lágrimas, o desespero, é uma marca que fica. Entretanto, em meio ao caos, é impossível não perceber a solidariedade e a unidade das pessoas para levar socorro e alívio. Tragédias, muitas vezes, nos impulsionam a ser melhores e a perceber que sempre podemos fazer mais.

Desde os primeiros temporais que atingiram BH, minha equipe e eu percorremos locais afetados. Pudemos contribuir na limpeza das casas, fizemos um mutirão para arrecadação de alimentos, roupas e móveis, além de partilharmos palavras de encorajamento e esperança. Perdi uma família amiga para um soterramento e experimentei a maior dor causada por estes dias chuvosos, a dor da perda de pessoas que amamos. Nada se compara a isso, por mais que perder bens materiais seja também difícil. Abracei, chorei, contribui no que pude e posso dizer que os últimos dias me fizeram ir além.

As chuvas não expuseram somente o lixo, mas também nossa fragilidade enquanto seres humanos. Julgávamos poder controlar a natureza, mas vimos que não temos esse poder. Se havia quem pensasse que sua posição social ou sua privilegiada localização o resguardaria, viu que ninguém está tão a salvo e que, no fim, somos todos iguais. Acima de tudo, percebi que ainda podemos, sim, ser mais solidários, mais empáticos, mais doadores, mais presentes e mais humanos. Vi pessoas tirando forças de onde não julgavam ter, para socorrer amigos, familiares e até desconhecidos.

Estamos, sim, recebendo a conta de projetos mal-feitos, visando mais o lucro que o bem-estar coletivo, mas penso que é momento de pararmos de olhar para os erros e entender que ainda temos a capacidade de acertar. Ainda podemos amar uns aos outros, podemos caminhar um pouco mais e ainda conseguimos dar, mesmo não recebendo. Ajudar as vítimas deste janeiro doloroso foi um privilégio, e digo isso sem nenhuma hipocrisia. “Melhor é dar do que receber” tornou-se uma afirmação intensa para mim, pois vi o quanto o caos me ensinou e me transformou. Torço para que possamos reerguer nossa cidade e também nossos princípios. Trabalharei muito por isso. #AcordaBH

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